MONDRIAN E A SÍNTESE ARTÍSTICA
por da, nirham : eRos
(pseudônimo de ANTONIO MIRANDA)
- Arte abstrai o mundo e ajuda a viver:
Antes de pensar em compreender a síntese artística de Mondrian,
há-que compreender a obra e as teorias que a fundamentaram. Não como admiradores seguidores, mas como intérpretes imparciais.
Mondrian nos disse que “as linhas verticais e horizontais são a expressão de duas forças em oposição”, que elas existiam em toda parte e que esta ação recíproca constituía a vida. Para ele o espaço era tudo e a realidade era forma e espaço, e a arte, para criar unidade teria que seguir a natureza, “não em seu aspecto, senão no que a natureza é realmente”: a unidade; a forma é o espaço limitado, concreto apenas, através de sua determinação. “A arte tem que determinar o espaço assim como a forma e criar a equivalência destes dois fatores”.
Convenhamos, antes de tudo que, para ele, as linhas não tinham a mesma função que nos concretistas, estes recorrendo a elas como veículo. Para ele estas linhas eram tudo. Confessa: “Excluí, cada vez mais minhas pinturas as linhas curvas, até que finalmente minhas composições consistiram unicamente em linhas horizontais e verticais, que formavam cruzes, cada uma separada e destacada das outras. Observando o mar, o céu e as estrelas, busquei definir a função plástica através da multiplicidade de verticais e horizontais que as cruzavam”.
Esta confissão, sem dúvida, faz “corar” os mais inflamados antifigurativistas. Mondrian não olvidava o mundo em que vivia, tão somente o abstraía a seus resultados últimos, onde o mundo se afigurava equilibrado e uno, livre de suas oscilações quotidianas, mas ainda mundo, ainda VIDA, como ele sempre disse: “A neoplástica procura expressar a variável e o invariável simultaneamente e em equivalência. É precisamente por isto que deve ter meio universais. Sua busca não leva ao absolutamente estável, que não pode ser expressado plasticamente, e que é o oposto ao estável-natural”.
E para ele a arte ensinaria a viver: “A classificação do equilíbrio através a arte plástica é de grande importância para a humanidade.”
“A realidade só nos parece trágica por causa do desequilibro e confusão de sua aparência. O que nos faz sofrer é a nossa visão subjetiva e nossa posição determinada. Apesar de que as manifestações e sentimentos trágicos existem somente no tempo, para nós, seres humanos, o tempo é a realidade. Nossa visão e experiência subjetivas nos impedem de ser felizes. Mas podemos escapar da opressão trágica ajudados por uma visão da verdadeira realidade, que existe, mas está coberta. Se bem não podemos liberar-nos, podemos liberar nossa visão.”
Ele, contudo, estabelece uma diferença ente o neoplasticismo e arte figurativa:
“Na arte plástica, a ação recíproca de determinadas forma
e espaços fixa a expressão objetiva da realidade. Esta ação constitui o movimento dinâmico que expressa a vida intrínseca. A representação objetiva evoca uma emoção universal, indescritível e portanto constante.”
Assim, considerou formas limitadoras as formas descritivas que encontramos nos naturalistas, apelando para a linha reta que, em oposição, era também a linha curva, ainda que em sua máxima tensão.
Chamou a atenção para a impropriedade do termo “arte não figurativa”, concluindo serem “todas as denominações relativas”.
- Mondrian e a criação de um mundo:
“Dentro dos limites do meio plástico, o homem pode criar uma realidade.” Esta frase corresponde ao ideal dos artistas mais autênticos do Oriente e do Ocidente: criar um mundo, através da arte que, ao invés de constituir um contraste absoluto com a natureza, seja capaz de contribuir para uma aproximação gradativa do homem com o universo, através de condições para a sua aclimatação.
Não seria, esta arte, uma oposição ao meio-ambiente, mas uma “liberação”, com a qual melhor poderíamos compreender o meio-ambiente e corrigir-lhe as debilidades. Prova que o homem, por sua racionalidade e dinâmica criadoras, não pode viver no mundo tal como ele se apresenta mas, daí não parte para a total repulsa; o ideal é contribuir para a sua aproximação sempre maior da natureza do mundo, com a natureza do homem e que somente a Arte, com seus meios de ação, pode contribuir. Hoje a Ciência, a Indústria, o Comércio, etc., estão a serviço do homem, são produtos de sua necessidade de subsistência, mas uma associação maior com a Natureza, que o humanizaria está em andamento e somente a Arte é capaz de proporcionar.
O desenvolvimento da Ciência, por exemplo, é tão assustador aos nossos olhos que, em confronto com os progressos sociais chega a causar um abismo. Enquanto o homem já conseguiu enviar um projétil à lua, e já debate a “internacionalização” do espaço cósmico, ainda não sabemos romper a inibição, os abruptos temperamentos, a total disciplina do trabalho e da produção planificada e, o câncer, o desajustamento a tudo o mais afligem nossas consciências.
A revolução socialista, a destruição dos tabús morais com o existencialismo, o materialismo, o comunismo, a psicanálise e a cibernética, duas guerras mundiais e iminência de uma terceira, e outros fatores chamaram os artistas a uma reflexão: alguns procuram conservar, outros se entregam a uma aventura sem
qualquer compromisso, enquanto a transição vai oferecendo já alguns frutos maduros.
Mondrian, trabalhando desde o início da crise, parece ter enxergado além dela (...)
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[Infelizmente, o final do texto está extraviado... São duas folhas de texto datilografado..., sem data, mas “assinado” por Da Nirham Eros, pseudônimo, o que leva a crer que foram produzidas antes de 1966, quando refugiei-me na Venezuela, e reiniciei o meu curso de Bibliotecomia que havia interrompido na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Tenho uma enorme quantidade de originais, textos, recortes, livros, revistas científicas e literárias, etc, em arquivos no meu apartamento e na chácara na fronteira entre o DF e Goiás que, aos poucos vou descobrindo e revelando, quando considerados ainda válidos. Os originais deste trabalho estavam, durante anos, “esquecidos” numa sala da Unversidade de Brasília, desde a minha aposentadoria, e só agora redescoberto, mas incompleto...]
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